
O CulturAnita – Instituto Cultural Anita Garibaldi, com sede em Laguna/SC, através do seu diretor Adilcio Cadorin, deu início neste mês de outubro a um trabalho de campo e pesquisa na cidade de Sorocaba. O município tem íntima relação com a colonização e desenvolvimento econômico da região do atual território de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e do Uruguai.
O trabalho na região será desenvolvido pelo jornalista Rodrigo Calzzetta Freire. O boituvense acompanha e estuda a história de vida de Anita Garibaldi há duas décadas. Após descobrir a realidade desta importante figura histórica através da minissérie “A Casa das Sete Mulheres”, em 2003 (quando tinha apenas 13 anos de idade), Rodrigo dedicou-se constantemente a estudar sua vida, história e acontecimentos dos quais participou ativamente, como a Guerra dos Farrapos e a Guerra de Unificação Italiana.
Agora dá um passo a mais neste histórico de admiração e conhecimento sobre a vida daquela que é chamada de “Heroína de Dois Mundos”. As pesquisas ocorrem na esteira das comemorações dos 200 anos de nascimento de Anita Garibaldi, celebrados em 2021.
Um dos objetivos dos projetos de pesquisa, em parceria com o instituto de Laguna, será colher informações sobre a história e a vida dos muitos tropeiros que durante mais de uma centena de anos contribuíram com esta epopéia, a exemplo de Cristovão Pereira de Abreu, considerado o “Pai do Tropeirismo” e dos tropeiros Bento Ribeiro da Silva e Antônio da Ribeiro da Silva , respectivamente pai e tio da Heroína Anita Garibaldi, que protagonizaram os ideais revolucionários que iriam se revelar nas lutas da Heroína, cujas expedições tropeiras saiam de Viamão/RS e de Laguna/SC até Sorocaba.
Já Cristovão Pereira de Abreu foi o pioneiro que abriu o caminho para condução das tropas desde o Uruguai até Sorocaba, onde passou a acontecer a chamada “Feira de Sorocaba” – o maior espaço em todo país para troca e venda de bovinos e mures.
Atualmente, o registro histórico é amplo e público no que diz respeito a estes acontecimentos no século XIX. O objetivo do CulturAnita é mapear com lastro em documental os acontecimentos do tropeirismo, em especial da “Feira de Sorocaba,” durante o século XVIII.
Após garimpar contatos com historiadores e pesquisadores sorocabanos, o colaborador boituvense iniciou suas buscas junto ao Gabinete de Leitura Sorocabano. O local, que tem mais de 150 anos de história e foi visitado por Dom Pedro II e pela Princesa Isabel, possui ampla documentação arquivada. Recebido pelo presidente do Gabinete, Laor Rodrigues, e pelo administrador e colaborador Zé Rubens, na tarde de 04 de outubro, Rodrigo teve acesso a novas informações e caminhos para seguir com a pesquisa.

Segundo o historiador lagunense Adilcio Cadorin, Colonia do Sacramento/Uruguai, Viamão/RS, Laguna/SC e Sorocaba/SP exerceram um pioneiro papel no século XVIII no que se refere ao pioneiro sistema de apresamento, transporte e comercio de bovinos e muares, posto que foi no rio Grande do Sul que os bandeirantes vicentistas e lagunistas encontraram as grandes manadas bovinas chucras, que proliferaram naturalmente e livremente pelas pradarias sulistas durante as dezenas de anos após a destruição das Missões Jesuíticas e das “vacarias”, que os jesuítas expulsos pela Coroa Portuguesa, mantinham no noroeste do Rio Grande do Sul.
Fato até então poco conhecido, foi a descoberta das manadas formadas por bovinos “orelhanos” que durante quase dois séculos forneceram a proteína animal, em forma de charque, para abastecer a força do trabalho escravo empregada nos canaviais e engenhos vicentistas e pernambucanos e na extração do ouro e prata das Minas Gerais.
Decorre daí a importância de serem resgatados os registros e estatísticas contendo os nomes destes pioneiros, responsáveis pelas quantidades, procedências e destinos das tropas que foram canalizadas para Sorocaba, transformada no maior centro distribuidor bovino e muar.